Na luta incessante pela preservação do patrimônio histórico e cultural, as palavras do Mestre Poeta Clarindo Silva reverberam como um eco profundo nas veias da cidade de Salvador. Com uma paixão ardente, ele faz um chamado à sociedade baiana para se reconectar com a história que pulsa nas ruas do Pelourinho, um lugar que, apesar das adversidades, carrega consigo o legado de resistência e dignidade de seus habitantes.
Clarindo rememora um passado em que o Pelourinho era vibrante, lar de 30 famílias tradicionais que se viram forçadas a deixar suas moradias.
A migração forçada para bairros como a Graça e a Barra simboliza não apenas uma mudança geográfica, mas um empobrecimento do conhecimento e da vivência cultural daquela área. Ele aponta para a injustiça social que transformou espaços antes ocupados por uma única família em prédios habitados por 38, desnudando a manipulação que essa mudança trouxe à vida comunitária.
O poeta denuncia o olhar preconceituoso da sociedade, que rotulou o Pelourinho apenas como um reduto de criminalidade e prostituição, ignorando a vivacidade de sua população trabalhadora. Nos anos 70, mesmo diante da marginalização, Clarindo defendeu a dignidade e o respeito que a comunidade merecia. Com bravura, ele registrou que, em meio ao caos, havia três escolas que funcionavam, mostrando que a educação e a cultura ainda tinham espaço para florescer.
A devastação do local, no entanto, é alarmante. O fechamento de instituições como a Faculdade de Medicina e o Instituto Médico Legal, junto com a desativação de centros culturais e administrativos, intensificou o esvaziamento do Pelourinho. A lista de perdas é extensa e dolorosa: "Houve incêndio, desmantelamento", diz ele, trazendo à tona a triste realidade de um lugar rico em história, mas negligenciado por aqueles que deveriam tê-lo esquecido.
Em um momento doloroso e simbólico, Clarindo cita uma morte recente que afetou profundamente a comunidade.
Ele evoca a presença constante das pessoas na igreja, um sinal de que, mesmo nos momentos mais sombrios, há uma luz que brilha na coletividade. Essa tragédia, segundo ele, serve como um chamado divino para a revitalização do centro histórico, lembrando a todos da importância de defender e valorizar esse patrimônio.
O apelo de Clarindo vai além das autoridades; ele clama por um envolvimento coletivo.
"Cadê as emendas? Cadê os empréstimos?", questionou ele, ressaltando que a responsabilidade pela recuperação do Pelourinho não recai apenas sobre os políticos, mas sobre cada cidadão. É um convite para todos unirem forças na preservação não só do passado, mas também da essência que vive no presente.
Ele homenageia a memória de Juliana, cuja morte deve servir como um incidente para a ação. “Preservar para perpetuar”, repete, enfatizando que uma sociedade que não honra sua história está fadada a repetir os erros do passado. A sua fala é um grito de alerta, um manifesto pela vida e pela cultura que precisa ser resgatado.
E assim, entre versos e lágrimas,
Clarindo Silva reafirma a importância do Pelourinho não apenas como um ponto turístico, mas como o coração pulsante da cultura baiana e brasileira. Que seu desabafo não seja em vão, mas que inspire um renascimento, uma revalorização, onde cada esquina contém uma história de resistência de um povo que ainda acredita no poder da união e na força do patrimônio cultural.
Comentários: